Pesquisa estima 1,5 milhão de pessoas com 18 anos ou mais infectadas pelo novo coronavírus na capital paulista

Dados são da terceira etapa do projeto de monitoramento da soroprevalência do SARS-CoV-2 no município; baixa renda segue como grupo mais atingido pela pandemia.

A terceira fase do SoroEpi MSP - Inquéritos soroepidemiológicos seriados para monitorar a prevalência da infecção por SARS-CoV-2 no Município de São Paulo - aponta que 1,5 milhão de pessoas, ou 17,9% da população com 18 anos ou mais, já foram infectadas pelo novo coronavírus na capital paulista.

Assim como os resultados da fase anterior, os dados desta terceira fase continuam mostrando que a prevalência da doença reflete a desigualdade social presente na capital paulista. Esta fase da pesquisa considerou três estratos socioeconômicos com base nas faixas de renda média dos setores censitários: baixa até R$ 3.349; intermediária de R$ 3.350 a R$ 5.540; e alta a partir de R$ 5.541. Os resultados mostram que a soroprevalência, ou seja, a frequência de indivíduos com anticorpos contra o novo coronavírus corresponde a 22,0% no estrato de baixa renda. Já para as famílias dos grupos de rendas intermediária e alta, a soroprevalência foi de 18,4% e 9,4%, respectivamente.

Também foi constatada a soroprevalência maior em pessoas com grau de escolaridade mais baixa. Assim, aqueles que não chegaram a cursar ou completar o ensino fundamental apresentam soropositividade de 22,5%; o grupo que cursou o ensino fundamental, 23,7%. Nos indivíduos que cursaram o ensino médio este número é de 17,5%; e naqueles com ensino superior 12,0%. A pandemia também atinge mais os pretos e pardos na capital paulista. No estudo, eles apresentam soroprevalência de 20,8% comparada a 15,4% dos brancos.

Nesta terceira fase, foram analisadas 1.470 amostras de sangue de moradores da capital paulista distribuídos em 115 setores censitários. Foram sorteadas 12 residências em cada setor censitário. O período de campo ocorreu entre 20 e 29 de julho.

Novo método sorológico

A partir de julho de 2020 o Grupo Fleury incorporou em sua rotina um teste sorológico capaz de detectar anticorpos para outros epítopos do SARS-CoV-2. Por este motivo os exames sorológicos para COVID-19 passaram a utilizar dois testes: o de quimioluminescência para detecção de IgG e IgM separadamente e o de eletroquimioluminescência para identificação de anticorpos totais.

O emprego conjunto destes dois tipos de testes foi introduzido na terceira fase da pesquisa e permitiu identificar um número maior de pessoas com anticorpos para o SARS-CoV-2. Com isso, a estimativa da soroprevalência que é de 11,5% (Intervalo de Confiança de 95%: 9,1-13,9%) com o uso apenas do resultado do teste de quimioluminescência, subiu para 17,9% (Intervalo de Confiança de 95%: 15,0-20,9%) com o uso combinado dos dois testes, ou seja, o aumento da sensibilidade de detecção de anticorpos específicos para SARS-CoV-2 levou a um aumento de 56% na estimativa da soroprevalência. Isso significa que com um processo de maior acurácia para a identificação dos infectados, conseguimos chegar a estimativas mais próximas da prevalência real.

O Projeto

O SoroEpi MSP é um projeto colaborativo entre cientistas, médicos e profissionais da Universidade de São Paulo, do Instituto de Saúde da Secretaria da Saúde do Estado com o apoio do Grupo Fleury, IBOPE Inteligência, Instituto Semeia e Todos pela Saúde.

O Projeto tem como objetivo subsidiar políticas públicas de prevenção e controle da pandemia da COVID-19, oferecendo informações sobre o percentual de pessoas já infectadas que poderão estar, pelo menos em parte, protegidas contra o novo coronavírus. Estas informações são importantes para que as autoridades de saúde possam tomar decisões acerca das ações de combate ao vírus, ainda mais neste momento em que diferentes áreas e serviços na cidade retomaram as atividades na capital paulista.

O estudo consiste em aplicar testes em amostras de sangue de adultos para identificar aqueles que foram expostos ao vírus e produziram anticorpos específicos para o SARS-CoV-2. Os resultados dos testes permitem estimar a fração de pessoas que já foram infectadas e que podem ter desenvolvido imunidade ao vírus causador da COVID-19.

Esta terceira etapa integra uma série de sete fases iniciadas no mês de maio. Ao todo, a pesquisa pretende estimar, e seguir ao longo do tempo, o percentual de pessoas infectadas pelo novo coronavírus residentes na cidade. Cada etapa terá seus resultados divulgados, assim como ocorreu no projeto-piloto e na segunda etapa, realizados em maio e junho, respectivamente.

Resultados da segunda fase

A principal conclusão da segunda etapa do SoroEpi MSP é de que a epidemia de SARS-CoV-2 no município de São Paulo pode ser entendida como duas epidemias com dinâmicas de propagação distintas, o que reflete as desigualdades sociais presentes no município. Os resultados da etapa, realizada no mês de junho, demonstraram que nos bairros de renda baixa da cidade a fração das pessoas infectadas é 2,5 vezes maior que nos bairros de renda alta. Enquanto na população de renda baixa a prevalência estimada foi de 16%, nos bairros de renda alta ela foi de 6,5%. A frequência de indivíduos com anticorpos contra o novo coronavírus é 4,5 vezes maior em pessoas que não completaram o ensino fundamental se comparadas com aquelas que concluíram o nível superior (22,9% versus 5,1%).

O levantamento também apontou que a soroprevalência é 2,5 vezes maior em pessoas adultas pretas do que brancas (19,7% contra 7,9%). Pessoas que moram em habitações com 5 ou mais residentes apresentaram soroprevalência quase duas vezes maior quando comparadas com as pessoas que residem com apenas um ou dois moradores (15,8% contra 8,1%). No total, a pesquisa apontou que 11,4% (Intervalo de Confiança de 95%: 9,2-13,6%) de moradores da capital com 18 anos ou mais já foram infectados pelo novo coronavírus, um total de 958 mil pessoas.

Nesta fase do projeto, foram coletadas e analisadas 1.183 amostras de sangue em 115 setores censitários, sendo que 12 residências foram sorteadas em cada um desses setores, durante o período de 15 e 24 de junho de 2020. A capital paulista tem uma população de 8.407.202 habitantes com 18 anos ou mais.

O projeto-piloto

Em maio de 2020, o projeto-piloto identificou na análise final dos dados que 4,8% (Intervalo de Confiança de 95%: 2,6-7,0%) das pessoas residentes nos bairros Água Rasa, Bela Vista, Belém, Jardim Paulista, Morumbi e Pari, equivalente a uma população de 298.240 habitantes, já haviam tido contato com o vírus SARS-CoV-2. Os moradores dessas regiões foram selecionados para participar do projeto e fizeram exame de sangue para identificação de anticorpos contra o vírus. Os seis distritos foram selecionados pelo projeto por apresentarem as mais altas taxas de casos e/ou óbitos da capital naquele momento.

Foram selecionadas aleatoriamente 1.152 residências localizadas nesses seis distritos e, segundo os resultados desta fase, um total de 299 residências participaram da pesquisa, tendo sido testadas 517 pessoas. Considerando a prevalência ajustada para o desenho do estudo de 4,8%, ao se fazer uma extrapolação para a população adulta residente nos distritos incluídos na pesquisa, estima-se que 14.017 indivíduos haviam sido infectados e tinham naquele momento anticorpos contra o novo coronavírus.

Mais informações sobre o projeto SoroEpi MSP podem ser encontradas no site, nas versões português e inglês, acessando: https://www.monitoramentocovid19.org/.

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